A bioeconomia pode ser a vocação do Amazonas e da Amazônia, mas sem ciência, sem gente, sem pesquisa, sem capital e sem redes tecnológicas, a bioeconomia no Amazonas será apenas um elemento de conversa solta, enquanto a floresta é vagarosamente ou velozmente destruída.
Por Augusto Rocha
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“Estudos da Bioeconomia no Amazonas”, é um livro que será lançado no dia 30/10, organizado por mim, pelo professor Dimas José Lasmar e pela Professora Rosana Zau Mafra, publicado pela Editora Valer, já disponível para venda no site da editora e em algumas livrarias. A publicação de divulgação científica, contempla trabalhos de alunos de doutorado em Biotecnologia. Foi organizado ao longo dos últimos dois anos e cada capítulo contempla pesquisas da área de gestão dos programas de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas ou da Rede Bionorte.
Sua elaboração demorou algum tempo, mas conseguimos capturar e perceber que há um longo, longo caminho até a Bioeconomia deixar de ser sonho e virar realidade. Ultimamente temos visto um esforço para dizer que a Agricultura extensiva no lugar da floresta nativa seria “bioeconomia” – é assustador quando vemos estes movimentos destruidores da Amazônia. O livro poderia ter tido um nome mais amplo, mas mesmo que reduzamos o espectro do estudo apenas para um dos estados da Amazônia, vemos o quanto precisa ser feito para a Bioeconomia ganhar relevância na economia regional. Com os textos, fica compreensível porque no Amazonas predomina a indústria do polo industrial de Manaus e baixa interiorização de “desenvolvimento”.
O livro foi dividido em cinco sessões: Contexto, Desafios, Startups, Ferramenta & Aplicações e Capital e Organização Social para a Inovação. Cada uma delas possui ao menos dois capítulos com estudos em cada tema. Mesmo que a inovação tenha sido o mecanismo construtor de riqueza nos países mais desenvolvidos, percebemos como ele está ausente da Amazônia. As empresas com potencial inovador carecem de recursos e de percepções, de redes inovadoras e de pessoas. Ao concluir a organização do livro, fiquei com a nítida impressão de que, se mantivermos os esforços atuais, nos métodos atuais, demoraremos mais de um século para ter produtos inovadores e transformadores associados com a Bioeconomia.
Mesmo assim, estou muito satisfeito com a publicação. Quem sabe ela demonstre para as pessoas que se preocupam com o país a necessidade de voltar a considerar a Amazônia como uma oportunidade. Parece irreal lembrar que o Porto de Manaus já exportava, 100 anos antes da existência do Porto de Santos e um produto selvagem era a principal pauta daquele momento: a borracha. Descobrir e desenvolver um produto semelhante ao que foi a borracha e encontrar uma forma de voltar a trazer a pujança da Amazônia talvez seja uma caminhada semelhante àquela que a China está fazendo para devolver a grandiosidade econômica do país na época das Rotas da Seda.
A bioconomia pode ser a vocação do Amazonas e da Amazônia, mas sem ciência, sem gente, sem pesquisa, sem capital e sem redes tecnológicas, teremos isso como um elemento de conversa solta, enquanto a floresta é vagarosamente ou velozmente destruída. Esperamos que este texto contribua para colocar a visibilidade nos potenciais e demonstrar o quanto eles são incipientes para substituir as formas de vida atuais. Precisamos de muito mais gente, muito mais esforços e algum tempo de estudos intensos, com o propósito de gerar algumas inovações para construir e reconstruir as redes industriais com vinculação sustentável com a biodiversidade amazônica. Possível é, mas estamos distantes disto.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade