Se seguimos com a pauta do século XX, certamente, colheremos resultados do passado. Para evoluirmos ao século XXI, precisaremos começar a colocar na mesa a gestão da mobilidade inteligente, que usa dimensões como: condução conectada, cooperativa e automatizada; tecnologia veicular; mobilidade compartilhada & verde; mobilidade de massa e sob demanda; big data e cibersegurança; IA e aprendizado de máquina; novos modos de mobilidade. Enquanto não conseguirmos trazer estas questões para o país seguiremos com movimentos caros em todas as dimensões
Por Augusto Rocha
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O propósito das cidades é servir às pessoas e não aos automóveis. Este conceito é fundamental antes de qualquer discussão sobre mobilidade urbana, pois usualmente se delibera sobre os efeitos do trânsito e não suas causas. Enquanto atuarmos de maneira antiquada, seguiremos a obter cidades feias e desumanas. A troca de perspectiva é fundamental na discussão do problema de movimentação de pessoas, para devolvermos o centro das atenções às pessoas, estejam ou não nos automóveis, tenham ou não muito dinheiro.
A cidade é o lugar onde os cidadãos enfrentam seus problemas básicos, pois é nela que moramos, antes de qualquer outra esfera administrativa mais abrangente, como planeta, país ou Estado. Se nos sentimos bem onde moramos, temos a chance de desenvolver todas as nossas capacidades. Caso contrário, sempre estaremos irritados e sujeitos a desgastes de toda a sorte, que diminuirão os nossos potenciais pessoais e de comunidade. Criar uma mobilidade cidadã é o primeiro passo para facilitar a participação social – e possibilitar isso é o alicerce da construção de uma política realmente voltada para pessoas.
Os carros são os vilões na movimentação de pessoas, porque eles ocupam muito espaço, transportando poucas pessoas, com pesada contrapartida ambiental e financeira, reduzindo a interação com o ambiente e desumanizando as relações. É claro que sempre haverá um espaço para automóveis, tal qual haverá espaço para calçadas, bicicletas ou drones. A mobilidade do futuro próximo terá veículos autônomos e voadores. A integração dos novos conceitos de movimentação de pessoas envolve uma grande diversidade de soluções que devem conviver em harmonia nas cidades.
Em meio à diversidade de formas de movimentação, a tecnologia se torna um elemento indispensável, tanto na concepção das soluções quanto no uso das pessoas em seu cotidiano, quer a cidade esteja pronta ou não para isso. As empresas de tecnologia perceberam esta lacuna e várias delas têm ofertado para as pessoas aplicativos que selecionam as melhores formas de se movimentar nas cidades, em qualquer meio de transporte.
Estamos distantes da discussão do básico na eleição municipal que se avizinha. Se seguimos com a pauta do século XX, certamente, colheremos resultados do passado. Para evoluirmos ao século XXI, precisaremos começar a colocar na mesa a gestão da mobilidade inteligente, que usa dimensões como: condução conectada, cooperativa e automatizada; tecnologia veicular; mobilidade compartilhada & verde; mobilidade de massa e sob demanda; big data e cibersegurança; IA e aprendizado de máquina; novos modos de mobilidade. Enquanto não conseguirmos trazer estas questões para o país seguiremos com movimentos caros em todas as dimensões.
A vida nas cidades é dispendiosa e lenta por causa do trânsito, o que deixa grande parte das pessoas frustradas e sem tempo livre para se desenvolverem. Esse descontentamento com o que não têm, cria uma raiva que se reflete nos votos, formando uma estrutura política, onde o interesse individual prevalece sobre o resto e onde os carros se tornam objetos de desejo, levando a uma quase escravidão da indústria automobilística, para a renda média brasileira, onde muitas pessoas vivem para comprar e financiar seu carro, quase como vítimas de um sistema de juros altos e de automóveis caros.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade